A caça e a economia
local
O Concelho de Valpaços é um dos mais ricos em termos de
diversidade cinegética, no Distrito de Vila Real. Com condições excelentes
especialmente para a criação de caça menor, tais como o Coelho, Perdiz e a Lebre.
Zonas de cultivo de centeio e trigo com encostas bem acentuadas de difícil
acesso, que servem de refúgio muitas vezes para estas espécies. Atrativo também
para o tordo, terrenos que se caracterizam pelos seus extensos olivais (zonas
de alimentação) e zonas de mato denso (dormitórios), irresistíveis para esta
espécie, diga-se, um tipo de caça muito apreciado pelo seu divertimento, pelo
numero de peças cobradas, pelo numero de disparos que se efetuam.
Assim temos um concelho, irresistível para nós e também para
muitos e muitos caçadores de outras regiões, que normalmente se deliciam
durante a época de caça com as nossas iguarias, com a nossa paisagem, com o
nosso companheirismo.
Em tempos que já lá vão, estes apaixonados da caça, num
sistema de regime livre, onde o acesso à caça era fácil, passeavam-se por estas
terras, traziam muitas vezes as famílias e outras vezes novos amigos. Vinham às
vezes aos fins de semana, instalavam-se de malas e bagagens, jogavam cartas,
faziam-se em alguns restaurantes autênticos manjares, grandes petiscadas, bebiam-se
uns “copos”, travavam-se novas amizades, compravam-se à pressa cartuchos em
algumas casas da especialidade, metia-se gasóleo, compravam-se cordeiros,
queijo , azeite, vinho, fumeiros e uma lista infindável de produtos aos agricultores.
Recorde-se que talvez tenham sido estes senhores a dar fama
ao nosso vinho e ao nosso azeite e que ajudaram a fazer destes produtos aquilo
que eles representam para nós e para a economia local hoje em dia.
Os caçadores circulavam de forma livre pelo nosso concelho.
O turismo funcionava no seu máximo esplendor e não era
necessário recorrer a qualquer mecanismo publicitário.
A economia brilhava e a comunidade sentia esta oportunidade,
entravam verbas financeiras na nossa algibeira. No fundo, direta ou
indiretamente todos beneficiávamos.
Porque acabamos então com isto?
Atualmente a nova legislação permite que por falta de
sensibilidade de quem dirige por ai múltiplas zonas de caça municipais e
associativas, que fizeram delas autênticas zonas de caça particulares, vendem
dias de caça e pouco ou nada fazem pela caça. Não compensam os agricultores, que
logicamente se sentem lesados nos seus interesses, uma vez que, para além de
eventuais prejuízos causados pela própria caça e/ou por caçadores (ainda que de
forma não intencional) são eles (os agricultores) neste tipo de reservas, os
principais “produtores” de caça. Os referidos dirigentes dessas zonas de caça vedam
ainda e sempre que podem o acesso aos caçadores de outras zonas que poderiam
ajudar a nossa economia local.
Desempenho os cargos de vice-presidente de um clube de caça
e secretário numa zona de caça municipal e claro sou também caçador. Não
concordo com o atual sistema de caça, apesar de estar inserido nela. Vejo a
caça como um bem da comunidade e para a comunidade onde todos poderíamos
beneficiar. Vejo a caça como um dos últimos redutos para a já tão asfixiada
economia local.
Esta oportunidade de negócio não devia ser desperdiçada.
É lamentável ver que
foram criadas zonas de caça que, tais
como Vassal e Fornos do Pinhal, Valverde, que têm áreas de caça muito reduzidas, que deveriam estar juntas com outras freguesias, porque quanto maior for a zona melhor para todos.
Porque se não se concorda com uma gestão, não significa que tenhamos de estar
separados, num desporto que todos gostamos. O isolamento e o egoísmo, como em
tantas outras áreas não leva a uma maior aprendizagem, antes pelo contrário.
Na zona de Caça Municipal na qual estou inserido e fazendo
parte da direção, sempre foi nosso apanágio, fazer atividades venatórias nas diferentes
aldeias abrangidas pela nossa zona de caça, beneficiando assim as populações
residentes através da possibilidade da comercialização das suas produções
agrícolas ou pecuárias, bem como dos produtos regionais. Para além ainda de dar
vida e levar algum movimento às nossas já desertificadas aldeias.
Sou a favor de uma zona de caça municipal que abranja todo o
concelho, que possa criar postos de trabalho, que beneficie as freguesias, que abra as portas aos caçadores de fora,
que traga turismo, que nos
permita circular livremente pelo nosso concelho, que nos leve a um maior
enriquecimento cultural, social e cinegético. Isto é possível, basta que para
tal queiramos.
Apelo aos responsáveis autárquicos para a sua sensibilização
nestas questões e julgo no meu entender que deveriam tomar sérias medidas, no
sentido de nos unir, a bem de todos nós caçadores e acima de tudo a bem do
nosso concelho e das suas populações.
Porque quando um caçador abate e cobra uma peça de caça,
podem acreditar ficou-lhe bem cara, mas isso no fundo não é o mais importante.
O mais importante seria que grande parte do custo dessa peça de caça ficasse no
nosso concelho, desde o agricultor que vende os seus produtos, ao posto de
combustível, ao restaurante, às residenciais, aos armeiros, etc. Julgo que
todos temos e deveremos manter interesse na conservação e fomento da caça, mas
não da forma como se encontra no presente.
Este tema é de tal forma profundo que muitas questões ficam
ainda por escrever e porque sei que no nosso concelho há caçadores com muitas capacidades
e com muitos conhecimentos cinegéticos convido-os a escrever e a
exprimirem-se sobre o assunto em
questão.
Rui Coutinho.
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